A horrível verdade da mineração de lítio: a exploração visual de Catherine Hyland
Em sua série fotográfica instigante intitulada “Mineração de Lítio, Deserto do Atacama”, a artista londrina Catherine Hyland investiga a complexa relação entre a intervenção humana, a paisagem e a demanda global por lítio.
Ambientada nas extensões áridas do deserto do Atacama, no norte do Chile, a série capta a dicotomia entre a beleza desolada da região e os processos industriais que extraem este elemento valioso, que alimenta as nossas vidas digitais modernas.
O boom do lítio:
O lítio, um elemento essencial para a tecnologia moderna, tornou-se a força motriz por trás da crescente procura de veículos eléctricos e dispositivos electrónicos portáteis. E é o Deserto do Atacama que abriga as maiores reservas de lítio do planeta. As fotografias de Hyland lançam luz sobre a dura e feia realidade desta indústria, onde o processo de extração de sais de lítio das salinas carregadas de salmoura ocupa o centro das atenções.
Domando o deserto:
Na série, Hyland captura as vastas e desoladas paisagens do Deserto do Atacama, pontuadas por grades ordenadas de lagoas de evaporação. Estas lagoas, adornadas com tons hipnotizantes de azul, verde e amarelo, simbolizam a concentração de lítio através da evaporação solar. A justaposição entre os espaços imensos e vazios e a organização meticulosa imposta pela actividade humana fala do desejo humano de controlar e poluir o ambiente para obter ganhos económicos.
Paisagens Vazias e Narrativas Históricas:
A representação do vazio tem uma longa história de utilização para justificar o expansionismo, o colonialismo e a dominação. As fotografias de Hyland traçam paralelos com imagens e mapas históricos, onde vastas paisagens ficaram vazias, servindo de pretexto para reivindicar propriedade e controle. Ao evocar esta narrativa, ela leva os espectadores a refletir sobre as consequências de tal perspetiva, instando-nos a questionar o impacto das nossas ações nos ecossistemas frágeis.
A Fragilidade do Atacama:
Além das grades ordenadas e das cores deslumbrantes, está a realidade enfrentada pelos habitantes do Atacama. As fotografias de Hyland revelam indícios de habitação humana, desde lagoas de sal secas até carros abandonados e cabos telefônicos espalhados.
Esses vislumbres nos lembram que o Atacama não é um vazio, mas uma terra onde as pessoas vivem há anos, adaptando-se às condições adversas. No entanto, o rápido crescimento da indústria do lítio trouxe um dilema para as comunidades locais, divididas entre as oportunidades económicas e a potencial destruição do seu frágil ambiente.
Narrativas de longo prazo:
O trabalho de Hyland leva-nos a considerar a natureza transitória do boom do lítio. Embora o Atacama possua vastas reservas de lítio, o consumo deste valioso recurso ultrapassa a sua reposição. As minas acabarão por fechar, mas os terrenos permanecerão, com vestígios de intervenção humana. É um lembrete comovente de que as nossas ações hoje devem considerar as consequências a longo prazo tanto para o ambiente como para as comunidades que dele dependem.
Todas as imagens neste artigo são cortesia de Catherine Hyland.
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